Livro: O conto da aia - Margaret Atwood

Olá! Hoje eu vou falar sobre o livro "O conto da aia" de Margaret Atwood que eu li recentemente e pelo qual eu estou apaixonada. Eu demorei muito para lê-lo para ser bem sincera, eu o iniciei pelo menos 3 vezes e sempre ficava até no máximo no primeiro capítulo e não seguia adiante, eu estava em uma ressaca literária nessa época e eu fiquei basicamente um ano sem ler absolutamente nada, sad but true. Contudo felizmente esse ano eu dei um gás devido toda a pandemia e a necessidade de quarentena e já pude ler até hoje pelo menos 19 livros em 2 meses o que realmente é impressionante. Dentre os títulos eu insisti no conto da aia porque eu precisava dar uma chance, porque vi que igualmente existe a série e as imagens realmente eram tentadoras e todos comentários sobre o lado feminista do livro me instigaram e eu segui e o devorei.
O livro precisa ser lido todas as mulheres em pelo menos em alguma fase da vida que se sintam confortáveis para discutir seu papel na sociedade machista, não é uma figuração ridícula de que você vai preencher o seu EU feminino com ele, mas tem uma grande necessidade social de nos mantermos angustiadas e não deixarmos injustiças acontecerem. 
Em resumo rápido o livro passa por um futuro distópico, porque você encontrará todos os recursos das descrições de cenas de nossa realidade atual (celulares, cartões de débito/crédito, computadores) em que a humanidade passa por uma crise na fertilidade e um partido completamente extremista cristianista aproveita para entrar em uma ditadura religiosa muito forte, quase por assim dizer uma lavagem cerebral da qual muda completamente o mundo moderno e as mulheres perdem seus direitos, dentre tantas coisas como trabalhar, ler livros, ter acesso a cultura, vestir como querem, ter opinião própria, ou qualquer coisa que seja considerada ofensiva a essa nova realidade religiosa opressiva. 
Assusta com o quanto parece com alguns pontos do nosso passado, talvez na Idade Média no mundo Ocidental certo? Ou quem sabe eu diria que assusta mais pensar que também é bem parecido com culturas muçulmanas extremistas ou tantas outras que sabemos que existem. Pois bem, o livro nos faz pensar.
As mulheres férteis são designadas para serem as Aias que são escravizadas por grandes senhores  (e suas senhoras submissas) para conceber algum bebê. As cenas que passam no livro e como explicam todo o esquema de como é a vida delas é ultrajante, vergonhoso e ofende toda nossa evolução. 
O que seria os Estados Unidos viram então a República de Gileade em que existem diversas divisões sociais entre as pessoas, mas que considerando o papel das mulheres pode-se afirmar que sempre serão inferiores aos homens. Nessa contextualização a narradora que é uma aia conta flashs do foi o seu passado combinados com cenas de seu presente dentro desse regime, dessa sociedade completamente machista.
Quem essas mulheres foram, seu passado, seus pertences, as pessoas que elas amavam, seus filhos, amigos, TUDO, foi descartado e elas devem aceitar essa condição nova designada (seja como aia, seja como Marthas que são as que prestam serviços como cozinhar, limpeza, entre outras funções domésticas, ou seja como qualquer esposa de generais ou ecoesposas) , o baque é forte, é como morrer e nascer de novo em um mundo completamente arcaico e opressor. É triste, elas vivem com receio de manter conversa, de parecerem suspeitas de rebeldia entre outras situações humilhantes das  quais passam. Mas vamos ser bem sinceros, numa sinceridade sem limites, qual mulher não se sente oprimida nos dias de hoje por qualquer motivo? O pudor e a castidade foram invenções masculinas das quais ainda direta ou indiretamente passamos, em pleno 2020, de forma que nos contaminam com o certo e errado de como ser ou agir diante de homens.
Ou eu posso andar sem camisa na rua? Eu posso raspar meu cabelo até ser careca sem ter algum comentário do tipo se virei lésbica (e se for?) ou mesmo se estou com câncer? Quem definiu tudo isso? Está na constituição? Não, mas nós mesmas nos policiamos para evitar comentários, para evitar ser repudiadas, evitar ser violadas. Uma opressão diferente, mas ainda está aí, ela está implícita. O conto da aia eu vejo como uma metáfora cruel de como seria se de forma radical o pensamento tóxico masculino crescesse e efetivamente dominasse.
Margaret Atwood é sensacional e soube muito bem jogar essa angustiante história para nós e fazer com que ela fosse totalmente atemporal. Eu sugiro então completamente a leitura, ela é excelente, foi realmente uma das minhas melhores leituras desse ano e também desse conceito feminino que já li na vida. Aproveite a quarentena e se faça esse favor.
Nolite te bastardes carborundorum.

Obrigada se leu até aqui.
Até a próxima!

Comentários

Postagens mais visitadas